O orientalismo não é apenas tendência de moda, apesar de muitos só fazerem essa associação. Aliás, há uma boa e única explicação para ele ter se tornado alvo preferido dos grandes estilistas há razoáveis temporadas: o oriente é tendência de mercado no mundo inteiro. Com a segunda maior economia do mundo, a China, por exemplo, é a principal culpada desse boom asiático na moda (e da moda na Ásia). Pesquisas afirmam que as principais marcas de luxo, como Luis Vuitton e Hermés, têm lucros expressivamente maiores nas vendas por lá. Só pudera, já que os chineses contam com uma humilde população de 189 bilionários!
E até que demorou, não acham? Carros, eletrônicos e vários
outros produtos desenvolvidos do outro lado do mundo, já tinham dominado o
nosso mundo há tempos. Agora, o caminho é inverso, já que os produtos
associados à cultura ocidental são os preferidos por lá. A moda, como sempre,
só acompanha o navegar do barco, ou melhor, da economia. O resumo dessa obra é
uma troca mútua entre moda e oriente. Eles nos inspiram de cá, nós vendemos a
rodo por e para lá. Vamos combinar que, depois de anos de repressão cultural, a
mulherada de olho puxado quer mais é soltar a franga e consumir MESMO.
Mais fácil ainda gostar desse produto se você enxerga a sua
cultura nele, né Marc Jacobs? Não só ele para a Louis Vuitton, mas também Gucci
e vários outros olharam para o oriente a fim de se inspirar nessa cultura
instigante, rica e milenar. Não é curioso? Uma cultura tão tradicional e antiga
só experimentar o gosto da liberdade de consumo agora? Enfim, o resultado dessa inspiração você já conhece
e viu bastante nos desfiles nacionais de inverno 2012, como no Alexandre
Herchcovitch, André Lima, Neon e Patachou. Decorativismo, kimonos, obis, cores
e bordados ricos e florais delicados são algumas das raízes orientais que
representam bem a ‘adaptação’ fashionista. Mas de nada importa essa bonita interpretação
se ela não vem de dentro, da raiz. O orientalismo dos europeus e americanos é
caricato, superficial, nada além das aparências óbvias.
Bom, eis que bate a nossa porta um chinês radicado no Canadá,
aos 10 anos de idade, chamado Jason Wu. O novo queridinho da moda desafia a
todos ao retratar essa semana em NYC, em seu desfile de inverno 2012/13, a
china que ninguém foi capaz de desvendar. Decorativismo? Só na parte em que ele
retrata a dinastia Qing, a última China imperial. De resto, o país como ele é
(ou era): muitas referências militares e poderosas para traduzir a China
comunista. Mais feminina e glamorosa, a outra parte da coleção remetia aos anos
30 do filme Shanghai Express. País das dualidades socioeconômicas, Jason Wu
soube traduzir com elegância do que a real China de trata: avanço versus tradição e riqueza seletiva. Tudo
isso sem drama, da maneira como a moda deve ser feita: celebrando. Aliás, a
moda deveria ser sempre assim, feita por quem tem propriedade e sabe fazê-la!
Nenhum comentário:
Postar um comentário